terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

PESQUISA CNT-SENSUS – MODOS DE USAR: SERRA VENCE NO PRIMEIRO TURNO OU DILMA EMPATOU COM O TUCANO?

“Eles” estão assanhadíssimos. Compreendo. A Confederação Nacional dos Transportes divulgou uma nova pesquisa CNT/Sensus. Há modos de usar os números. Qual você prefere, leitor? Destacar que o tucano José Serra (PSDB-SP) venceria a disputa no primeiro turno ou chamar a atenção para o fato de Dilma ter crescido e estar em “empate técnico” com o tucano EMBORA A DIFERENÇA ENTRE AMBOS POSSA SER DE 12 PONTOS NO PRIMEIRO TURNO? NÃO SÃO OPERAÇÕES EQUIVALENTES, COMO FICARÁ CLARO.

No cenário em que Ciro Gomes (PSB) disputa a eleição, o que é improvável, os números da pesquisa CNT-Sensus são estes:





Com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, há empate técnico? É, há: desde que se faça uma conta contra Serra e a favor de Dilma: ele teria três a menos (30,2%), e ela, três a mais (30,8%). É a conta que um petista faria. E que alguns “sites” isentos têm feito. Mas se pode fazer também o inverso: uma conta a favor de Serra. Nesse caso, ele é que teria três a mais (36,2%) e ela é que teria três a menos (24,8%).

Notaram? Um “empate técnico pode se transformar, num átimo, numa diferença de quase 12 pontos a favor do tucano: nada Menos de 15 milhões de votos. Essa é a conta que os tucanos fariam, mas que os sites e jornais “isentos” jamais farão. Afinal, eles só são “isentos” fazendo a mesma conta que os petistas fazem.

Atenção: a probabilidade de Serra e Dilma estarem empatados é a mesma de haver 12 pontos de diferença entre eles. ESTAMOS LIDANDO COM MATEMÁTICA E LEI DE PROBABILIDADES (a partir de dados fornecidos pelo Sensus), NÃO COM PILANTRAGEM. Não se deve exigir, sem que isso pareça injusto, que jornalistas conheçam matemática. Mas se pode exigir que não sejam pilantras — para tanto, basta ter vergonha; não é preciso saber fazer conta.

Outro cenário
Mas há o cenário em que Ciro não disputa a eleição, como quer Lula. Aí as coisas se complicam para o PT porque Serra continua a vencer a disputa no primeiro turno:





Como Serra, sozinho, tem mais do que a soma de Marina e Dilma, ele vence no primeiro turno. Aí o petista esperançoso lembra que, com margem de erro de três pontos, ele pode ter 37,7%; Dilma, 31,5%, e Marina, 12,5% — nesse caso, seria 44% para elas contra 37,7% para ele. Haveria segundo turno. Pois é… E se for o contrário? Em vez de 40,7%, ele tem 43,7%; Dilma, 25,5%, e Marina, 6,5%? Aí serão 32% das duas candidatas contra 43,7% do tucano. E se volta àquela diferença de quase 12 pontos.

Viram como dá para brincar com os números à vontade? Os colunistas e sites “isentos” preferem brincar com os números que são do gosto dos petistas.

ATENÇÃO: afirmar que Serra e Dilma estão empatados ou que o tucano vence no primeiro turno não são possibilidades equivalentes. Para sustentar a primeira, é preciso jogar com a margem de erro a favor dela. Para sustentar a segunda, basta ficar com os números apurados.

Segundo turno
O Sensus faz simulações de segundo turno. Comecemos por aquela que é mais provável:




Estranheza
A margem de erro das pesquisas serve como justificativa para coisas estranhas. E a minha estranheza até poderia ser explorada pelos petistas: com o candidato do PSB na parada, Dilma fica com 27,8%; quando ele sai, ela não leva quase nada: 28,5% (só, 0,7 a mais). Serra ganha 7,5 pontos, e Marina 2,7 pontos. Os brancos, nulos e não sabe/não respondeu aumentam um ponto. Somadas, essas diferenças formam os 11,9 pontos percentuais de Ciro.

Pergunta óbvia: será mesmo que os eleitores de Ciro não querem saber de Dilma? Que a grande maioria vá para Serra, até compreendo — os dois já pertenceram ao mesmo partido. Mas haver uma migração maior para Marina do que para Dilma quando, segundo os números, a petista é que estaria em ascensão?

Estranho muito! Essa parece ser aquela tabela talhada a gosto por aqueles que não acreditam na estratégia de Lula de fazer um plebiscito já no primeiro turno. Por Reinaldo Azevedo

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