quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A GUERRA DE DEPUTADOS POR PREFEITOS É MAIOR NOS RINCÕES; NOS GRANDES CENTROS PREFEITOS SÃO BEM MENOS IMPORTANTES NAS DISPUTAS


Por Bertha Maakaroun - Estado de Minas:

A guerra está em curso e os soldados em campo aberto procurando camuflar táticas para a cooptação de votos. O fogo adversário e amigo está centrado nos prefeitos. À frente das máquinas administrativas locais, eles são de longe o melhor atalho para se chegar aos eleitores, sobretudo aqueles dos rincões dependentes de intervenção do poder público para a garantia de obras e serviços de toda a ordem. “Invasão das bases” e “ocupação de território” são as expressões que frequentam as rodas de deputados no plenário, nos corredores e nos gabinetes da Assembleia Legislativa.

O deputado estadual Gil Pereira (PP) reclama do colega de plenário e vizinho de gabinete, Gustavo Corrêa (DEM): “Ele me roubou dois prefeitos, nas cidades de Cachoeira de Pajeú (Jequitinhonha) e Divisa Alegre (Norte)”. Correia retruca: “O prefeito de Pajeú estava insatisfeito com a falta de assistência. Eu o ajudei com emendas para a cidade. E em Divisa Alegre, apoiei o meu grupo político apresentando um advogado ao candidato Itamar Nascimento (DEM), segundo mais votado na eleição, que acabou empossado”. O prefeito eleito de Divisa Alegre, José Carlos (PTB), ligado a Gil Pereira, teve o registro cassado.

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Disputa por apoio de prefeitos é maior na Grande BH As reclamações de “roubo” se multiplicam. Leonardo Moreira (PSDB) é acusado de entrar nas cidades de Gustavo Corrêa. Por seu turno, Corrêa, e a maior parte da Casa, não se faz de rogado ao traçar estratagemas que lhe rendam prefeitos. Certa vez, enquanto o líder do governo, Mauri Torres (PSDB) se atrasava em um enterro, Gustavo Corrêa fez a corte ao então prefeito de Capelinha, Ivan Gilson (DEM), cidade do Vale do Jequitinhonha. “O pessoal de Capelinha esperava irritado. Eu os recebi em meu gabinete e resolvi o problema. Foi a cidade onde tive mais votos em 2006”, lembra Corrêa.

Deputados cobiçam os “prefeitos alheios” porque esses continuam sendo os maiores cabos eleitorais. A percepção é amplamente respaldada por deputados estaduais de diferentes regiões do país. Pesquisa conduzida pelos professores e cientistas políticos Carlos Ranulfo, Magna Inácio e Fátima Anastasia, do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 12 assembleias legislativas, vaticina: 80% dos parlamentares consideram os prefeitos cruciais para as suas reeleições, contra apenas 20% que assinalaram não considerar esse elo da “corrente” político-eleitoral importante.

Disputados com a oferta de “favores” que passam pela apresentação de emendas orçamentárias, pelo acompanhamento e trâmites burocráticos para a liberação de recursos, pela articulação de convênios com o Executivo e pela inclusão das cidades em programas para a construção de pontes e asfaltamentos de rodovias, os prefeitos firmam contratos de lealdade com os deputados estaduais e federais. Lealdade que dura enquanto a intermediação dos deputados consegue levar obras aos municípios, o que também contribui para a boa perfomance política dos prefeitos. Política é assim, uma via de mão dupla.

Caneta na mão é arma na guerra

É assim que deputados que assumem secretarias, com a caneta na mão, “invadem” com verbas e benfeitorias as bases alheias, em guerra aberta pelo apoio dos prefeitos. A população ganha com as pequenas intervenções públicas, na maioria das vezes paliativas, mas os “donos” dos territórios ocupados acendem a luz vermelha. O deputado estadual Marcus Pestanna (PSDB), que até o mês passado foi secretário de Estado da Saúde, gerou mal-estar na Casa. Ambulâncias e serviços de saúde aos municípios, documentados em fotos, chegaram às mãos do governador Aécio Neves (PSDB). Os deputados estaduais de sustentação do governo do estado, que levaram inúmeras queixas de bases “invadidas” ao governo, só se acalmaram quando descobriram que Pestanna concorrerá à Câmara dos Deputados. “Se eu tivesse a verba do Pestanna, teria 300 mil votos”, inveja um parlamentar “aliado”.

Na chamada bancada do Norte – de seis deputados – a relação entre parlamentares é mais acirrada e a disputa se dá, prefeito a prefeito. Não é à toa que boa parte dos nortistas vive às turras com a secretária de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas, Elbe Brandão (PSDB), que continuará à frente da pasta até o fim do governo. Sem intenção de se recandidatar, Elbe entregará as suas bases ao próprio marido, José Henrique. “Ela tomou o meu prefeito de Monte Azul, quando em 2004 me candidatei a prefeito de Montes Claros. Já o Arlen Santiago (PTB) pegou o meu prefeito de Porteirinha. Mas fica uma onça se alguém invade a base dele”, afirma Gil Pereira, referindo-se aos colegas da bancada do Norte. Conhecido como um parlamentar que reage com destreza na defesa de “suas cidades”, Arlen Santiago desconversa: “Sou o deputado que menos tem as bases atacadas. Ninguém me toma porque as pessoas são minhas amigas”.

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