domingo, 3 de maio de 2009

Uma entrevista da Folha com o biografo da Dama de Ferro: "Thatcher restaurou grandeza britânica"


Por PEDRO DIAS LEITE, na Folha de S. Paulo:
Margaret Thatcher, a mulher mais poderosa do século 20, subiu ao poder muito insegura, para ao longo dos anos 80 se tornar confiante até demais, o que acabou por torná-la arrogante. Hoje, é uma "velhinha" de 83 anos, de memória frágil, mas saúde estabilizada, diz Charles Moore, 52, seu biógrafo autorizado (mas não oficial).
Um dos poucos a terem acesso à vida de Thatcher depois que ela deixou o poder, o ex-editor do jornal conservador "Daily Telegraph" conta que a antiga "dama de ferro" sofreu uma série de pequenos derrames e perdeu a prodigiosa capacidade para os detalhes.

Leia entrevista com Moore:
Folha-
Qual a importância da infância e do pai para definir a futura baronesa Thatcher?
Charles Moore - Ela vivia numa cidade provinciana, que não estava em contato com o mundo lá fora. Veio de uma família relativamente humilde, porque seu pai, Alfred Roberts, era um dono de quitanda. Quando ela se tornou política, acreditava fortemente que podia aplicar as lições de comandar uma quitanda para a esfera nacional, o que a tornava muito hostil à presença governamental, a grandes negócios e a impostos pesados. Seu pai deu a ela um forte sentimento de acreditar nos pequenos negócios, na liberdade e no que vem de fora da elite.
Folha - Nos últimos anos, o senhor teve um acesso raro à vida de Thatcher. O que mudou dos tempos em que ela estava no poder?
Moore - Quando ela entrou no poder, há 30 anos, era muito nervosa, porque sabia que, se desse errado, ninguém iria salvá-la, porque não fazia parte do establishment conservador. Constantemente temia ser derrubada, o que a tornou extremamente ansiosa e batalhadora para fazer o melhor que pudesse. Mas venceu três eleições, e com o tempo ficou mais autoconfiante. A grande mudança foi quando venceu a Guerra das Falklands. Foi aí que soube que não podia ser derrotada dentro do partido e tinha uma enorme chance de vencer as próximas eleições. Mas isso foi em 1982, e no final dos anos 80 ela se tornou confiante em excesso. Em 1990, quando foi tirada do poder por seus colegas, ficou raivosa e confusa sobre o que fazer. Gradualmente, ela se tornou mais distante da política.
Folha - O que o sr. definiria como o legado do governo Thatcher?
Moore - Ela era obcecada com a ideia de que o Reino Unido tinha fracassado política e economicamente depois da [Segunda] Guerra, e queria restaurar o que ela acreditava serem as qualidades britânicas. De certo modo, não era revolucionária, mas uma restauradora.
Acreditava que o Reino Unido tinha grandes qualidades, que estavam perdidas, e por vários ângulos ela foi bem sucedida nisso, em termos de liberdade econômica e oportunidade e coragem em questões globais.

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