domingo, 13 de junho de 2010

ENTREVISTA DE REGINALDO LOPES PRESIDENTE DO PT AO JORNAL O TEMPO

Por Carla Kreefft, no O Tempo:
Em entrevista exclusiva para O TEMPO, ele faz uma avaliação do processo de escolha do candidato da base de Lula ao governo de Minas, admite e compartilha erros, mas garante que seu partido vai entrar para valer na campanha do aliado peemedebista Hélio Costa.

O PT vai contribuir efetivamente com a candidatura de Hélio Costa?
Quando as direções nacionais anunciaram a candidatura do Hélio Costa, eu falei uma frase: nós fizemos um bom combate. Nós entramos para defender a nossa candidatura, era importante a candidatura de Fernando Pimentel ao governo do Estado. Estabelecemos uma comissão da base aliada e um procedimento, chegamos tecnicamente com a opinião majoritária dos partidos aliados pró-Fernando Pimentel, mas não conseguimos concluir o trabalho aqui em Minas. Houve a primazia dos projetos nacionais, então houve a escolha do ministro Hélio Costa. A partir daquele momento, eu declarei apoio ao Hélio Costa, e o PT vai trabalhar. Mas evidente que vai depender também da capacidade da candidatura do Hélio Costa. E aí eu acho que o primeiro desafio é escolher um bom vice que represente de fato a unidade do PT. Nós temos que convencer o Patrus Ananias. E precisamos de um bom plano de governo. Minas tem que, no dia 1º de janeiro, colocar o subsídio dos professores em R$ 1.024. Por aí a gente começa a aproximar a militância da candidatura de Hélio Costa. Nós fomos até o limite para convencer o ex-ministro Hélio Costa de que era importante ele compor uma chapa com os demais partidos, mas infelizmente a gente não conseguiu e prevaleceu o acordo nacional. Nós vamos agora de corpo e alma unificar o PT em torno de Hélio Costa.

Você acha que é um custo alto para o PT de Minas bancar o palanque único para Dilma Rousseff no Estado?
Bom, agora o palanque único tem um candidato e é ele quem vai representar a candidatura de Dilma Rousseff. Ele é o nosso candidato. Nós vamos precisar ir agora ao encontro da militância do PT. Acho que a militância não tem dúvida de que a gente foi até o limite. Ninguém do PT tem autoridade para decretar a morte do PT, isso é um erro.

Mas é a primeira vez que o PT não tem candidato ao governo de Minas. Isso é uma derrota?
O PT não ter candidato em Minas é um erro histórico. O PT em Minas tem duas grandes lideranças e é evidente que não é fácil para a militância do PT aceitar com tranquilidade que nenhuma dessas duas está encabeçando uma candidatura no Estado. A militância do PT sonhou em poder governar Minas e agora vai ter o sonho adiado.

E esse erro começou em 2008?
Acho que sim. De fato, nós não podemos fazer síntese da crítica. Mas eu acho também que é um erro compreender esse processo transformando-o em palavra de ordem. É um processo muito complexo, que envolveu duas grandes lideranças do PT - Patrus Ananias e Fernando Pimentel. E eu digo que os dois têm a mesma responsabilidade nesse processo, não dá para encontrar culpados. Mas, de fato, vivemos tudo no limite. Eu sempre tive muita dúvida, eu fui contra as prévias, as prévias não foram boas nem para o Patrus nem para o Pimentel. Para Patrus, porque ele perdeu. Para o Pimentel, porque a tese do palanque único dava primazia à candidatura do Hélio Costa. Não era necessário.

Vocês fizeram as prévias sabendo que não teriam a cabeça de chapa?
Fiz todos os esforços para que a gente não precisasse de maioria numérica. Desde 2008, eu venho afirmando que a maioria numérica não resolve os problemas do partido. Quando você tem maioria numérica, você submete derrota a alguns grupos. Em 2008, o Fernando não conseguiu maioria política para a sua tese, mas também eu acho que houve um erro em torno do Patrus Ananias, que não aceitou ser candidato a prefeito. Quando terminou o PED, eu acho que foi também um erro a gente não ter encerrado todas as nossas disputas. Estava ali a grande esperança de o PT estabelecer uma unidade mais rápida. Aí, sim, a gente poderia ter chegado melhor a um processo de disputa com o senador Hélio Costa, do ponto de vista das pesquisas quantitativas.

E agora? Patrus está correto em relutar para aceitar o convite para ser vice?
Eu acho que o Patrus está correto. Para ele compor essa chapa é preciso um movimento maior pelo projeto nacional. É importante que tenha uma participação muito forte do projeto nacional com a aliança em Minas. É importante que o presidente Lula participe desse processo. Se prevaleceu a primazia nacional, se há o entendimento de que nós precisamos continuar governando o Brasil e de que a aliança com o PMDB é fundamental e o preço foi Minas Gerais, é importante agora que o presidente Lula também assuma a sua responsabilidade. Se eu se fosse o Patrus, iria querer essa mesma garantia para ser candidato. Mas não é só uma tarefa do presidente Lula. É uma tarefa de todos nós, daqueles que querem uma candidatura fortalecida do Hélio Costa.

E se o Patrus não aceitar, quem o PT vai indicar?
A reunião vai acontecer agora na próxima terça-feira. Acho que não é bom se o Patrus não aceita e que vamos ter dificuldade em indicar um outro nome que possa dar a Hélio Costa esse simbolismo que a candidatura dele precisa. Hoje a liderança mais importante que o PT tem para dar esse simbolismo é Patrus Ananias. Não tendo ele, nós vamos ter que discutir outros nomes, mas nós vamos primeiro com a hipótese do Patrus Ananias. A nossa convenção está marcada para o dia 27 de junho. Então, nós temos até essa data para essa indicação, que precisa ser feita com muita cautela.

Você foi muito criticado durante o processo todo. Você sai com alguma mágoa?
Saio desse processo com uma certeza: fui a voz da militância do PT. Tudo o que eu fiz foi em nome do sentimento petista, estou convicto de que não tinha outro caminho. O que a militância do PT esperava foi o que eu fiz: a defesa intransigente da candidatura do PT. Evidente que nesse processo eu tinha clareza das dificuldades. Eu sou um homem de partido. Eu sabia das responsabilidades. Não fizemos jogo de cena, nenhum teatro, não faço teatro, eu participo. E acho que nós conseguimos sobrevidas em vários momentos, quando parecia que o processo estava finalizado. Mas, evidente que no final prevaleceu o acordo nacional. Tudo o que eu fiz foi em nome dos petistas de Minas. Acho que cumprimos a tarefa de um dirigente.

Há um esforço do PMDB, do PCdoB de trazer o PT para a aliança proporcional. O PT vai aceitar?
Essa tese de fazer aliança para trazer militância não é verdadeira. O PMDB tem dificuldade e eu acho que o senador Hélio Costa terá que fazer um trabalho também para dar uma unidade dentro do PMDB. O PMDB não pode exigir uma aliança proporcional do PT. Quem assenta na cabeceira da mesa é que paga a conta. O PMDB é que tem obrigação, agora, de acolher os aliados. E isso é pirraça do PT? Não. Nós não temos o candidato ao governo. Nós temos uma chapa forte para bancada estadual e federal. O PT é que tinha que estar reivindicando. Cabe ao PT, se ele quiser, reivindicar a chapa. Não cabe ao PT se obrigar a participar da chapa para viabilizar o PMDB. Então, acho que essa situação está invertida.

O PMDB está querendo demais?
O PMDB, ao exigir uma aliança nacional, está tendo uma atuação muito pragmática, quer dizer, não quer correr nenhum risco. Isso não existe. Na política tem que se correr risco. Quantas vezes o PT lançou candidato ao governo e à prefeitura correndo risco? Não pode ser assim não. O PMDB não pode transferir para o PT a responsabilidade. Cabe ao PMDB atrair seus aliados, cabe ao PT decidir se quer ou não participar da chapa. E cabe ao PMDB nos aceitar. É evidente que o PMDB tem a obrigação de aceitar a participação do PT, mas o PT não tem a obrigação de aceitar compor com eles nas proporcionais.

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