quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sete Lagoas sofre mais que outras cidades em Minas com a crise mundial: A força da transição no Brasil e, em especial, na cidade de Sete Lagoas

(Leia também o post IRRESPONSABILIDADE!!!, que trata específicamento do risco geológico de Sete Lagoas)
Transição
Creio que a palavra que dá o título a este artigo descreva o que está ocorrendo no mundo. Nos Estados Unidos, Barack Obama toma posse, no Brasil novos prefeitos acabaram de assumir e a economia passa, em todo o planeta, de um espetacular crescimento para uma severa recessão. Apesar da abrangência global do movimento de transição, tratarei do assunto no âmbito do que ocorre em uma cidade, analisando por que as conseqüências da crise mundial em Minas são mais duras em Sete Lagoas.

Sete Lagoas é uma das mais belas cidades do país, de geografia plana, localizada estrategicamente a 60 KM de Belo Horizonte e a 33 KM do Aeroporto Internacional de Confins, faz parte do Circuito das Grutas e tem as lagoas naturais que deram o nome a essa cidade de médio porte. Essas são algumas das características que posicionam competitivamente o município no cenário nacional, o que atraiu empresas como Iveco e agora a AmBev, além de estar em construção o primeiro Shopping, pelos grupos BRMALLS-CALSETE. Entretanto, Sete Lagoas foi o município que mais perdeu postos de trabalho em Minas, como mostrou o jornal O Tempo, no período de Setembro/08 ao início de janeiro/09, com mais de 5.000 empregos cortados. O que explica esse paradoxo?

O problema de Sete Lagoas é que ela ainda tem a sua maior plataforma econômica baseada na exportação de ferro gusa, um bem primário importante, mas muito vulnerável à variação do contexto econômico mundial. E o incremento produtivo que ocorreu com a chegada de novos negócios não atendeu em velocidade e quantidade a demanda local. E esses novos empreendimentos são fruto muito mais do esforço de governantes do estado – portanto, externo – do que uma ação local para impulsionar seu próprio desenvolvimento.

Faltou a Sete Lagoas o que falta a maioria das cidades brasileiras: tomar a iniciativa e planejar o seu futuro, ter uma visão clara de onde quer estar no longo prazo, e assim, estabelecer uma estratégia coerente para realizar essa visão, decidindo o que tem e o que não tem que fazer para se atingi-la; o que quer o que não quer. O crescimento passado aconteceu a revelia de um plano local; o atual também, assim, eles não foram devidamente explorados, complementado e aproveitado pela cidade.

Bem, mas para alcançar esse grau de maturidade institucional, uma cidade precisa antes resolver suas questões estruturais básicas, não é mesmo? Infelizmente Sete Lagoas não fez o seu dever de casa. E ao longo de décadas a alternância do poder político, muito pouco contribuiu para modificar valores e práticas arraigadas que travam o progresso. Isso fez a cidade refém de um velho modelo mental que assegura o seu atraso histórico.

O colapso da sua infra-estrutura é a maior evidencia disso. Basta analisar o caso do saneamento: em 1.969, o Engenheiro Fernando Otto Von Sperling, da UFMG, depois de longo estudo recomendou a cidade que passasse da captação de água via subsolo (poços artesianos) para superficial (em rio) no máximo até 1979, para evitar o risco de desabastecimento e um acidente geológico por causa do tipo de solo, que a cidade ocupa. Mas estranhamente o estudo foi ignorado pelas autoridades. Até que em 1988, um acidente geológico abriu uma cratera de 20m de diâmetro e cinco de profundidade no Bairro Santa Luzia tornando o risco uma realidade. E pasmem(!), mesmo depois desse evento o sistema de abastecimento de água não foi alterado, o que levou a repetição do evento em outras regiões. Hoje, a cidade continua sob essa ameaça, a falta de água é generalizada e nas áreas onde a situação do saneamento é mais grave, há refluxo de esgoto para dentro dos imóveis.

O que explica tanta inércia? A visão refratária a interdependência e à abertura que existente localmente. Por exemplo: há menos de dois anos, Sete Lagoas rechaçou uma oferta da Copasa para resolver o problema de água e esgoto. Preferiu manter os serviços próprios de sua autarquia – SAAE – sob a justificativa de não perder autonomia e não abrir mão de suposto patrimônio dos cidadãos. Uma desculpa que esconde interesses ocultos de grupos patrimonialistas que fazem da autarquia um cabide de emprego político. Além desses grupos, existe uma corrente ideológica na cidade que advoga a auto-suficiência, idéia que só leva ao isolacionismo, fonte da ineficiência e da corrupção e de um baixo grau de empreendedorismo.

A exemplo do que acontece no saneamento, a saúde e a urbanização estão também em estado crítico. Para se ter uma idéia, o Hospital Municipal funciona há mais de 20 anos, onde era o prédio de uma escola que mal foi adaptado para este fim, não possui recursos tecnológicos básicos e instalações adequadas e suficientes para atender a demanda.

É urgente romper com o ufanismo que impede Sete Lagoas de enxergar que outras cidades do mesmo porte avançam a passos largos, enquanto ela fica comendo poeira. Um modelo mental que só faz aumentar o déficit estrutural, o subdesenvolvimento intelectual, econômico e social. Muitos que defendem a reserva de mercado dizem agir com a melhor das intenções para defender Sete Lagoas dos interesses do grande capital, que viria aqui explorar o povo. Puro engodo. Este é um comportamento que impede a cidade de resolver os seus problemas estruturais.

Superar esta mentalidade é um desafio que está posto para Sete Lagoas, bem como, para muitas cidades que também sofrem com este tipo de ufanismo trapaceiro, algo que já levou muitos países latino-americanos a ruína. Este é o grande desafio que a nova administração municipal tem para destravar o progresso.

E para vencê-lo e construir um novo tempo é preciso mais que um choque de gestão (eficiência) é preciso ser eficaz. Tomando como exemplo ilustrativo, o novo governo da cidade propõe implementar um choque de gestão (eficiência). E para fazer isso ele tem antes, que ser eficaz na escolha da equipe – ou seja, se não fizer as escolhas certas, nada feito. Aliás, nesse sentido acerta a nova administração ao escolher pessoas que podem oxigenar a máquina e ajudar a criar uma nova cultura rompendo com o antigo rodízio de pessoal que ora atendia ao governo de fulano ora de beltrano. É isso: não se pode hesitar em tomar as medidas necessárias. E para fazer o que tem que ser feito, o líder tem que manter a sociedade mobilizada, tornando as causas coletivas da cidade as causas de cada cidadão.

A esperança é que as razões que fazem a cidade sofrer mais os efeitos da crise, que outros municípios, também pode ser a força para ela sair da inércia e agir. Vejam: Sete Lagoas tem um batalhão de pessoas desempregadas e um problema estrutural grave no saneamento, para o qual não possui recursos próprios para resolver, mas pode solucioná-lo e ainda gerar pelo menos 1.200 empregos diretos através de concessão. Deixaria de agir agora sob qual justificativa? Usaria um empréstimo que pode estrangular as contas públicas? Ou seja, é o mesmo tipo de força que pode obrigar o Brasil a flexibilizar as suas leis trabalhistas para minimizar o desemprego. Em Sete Lagoas como no Brasil, existe uma série de iniciativas que essa transição pode impulsionar, o que precisa é de coragem, imaginação e ação.

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí...Visão, coragem e disposição é o que falta a muitos políticos para mudar a história local. Uma cidade como SL não pode mais viver no atraso e com tanto monopólio. A atual equipe do prefeito Maroca parece que vai enfrentar estes graves problemas que vc destaca...Precisamos acompanhar...

Anônimo disse...

Sete Lagoas precisa urgentemente de alguem do PCdoB na prefeitura!!!!!! PT e PSDB já estragaram muito a cidade!!!!!! Meus leitores, fiquem atentos, pois a coisa anda feia na cidade, Leonardo Barros que o diga. Ele conhece os podres do pessoal de lá como ninguem. Parabéns pelo blog!