domingo, 28 de dezembro de 2008

Crise mina a base da economia de Minas

Por PAULO PEIXOTODA AGÊNCIA FOLHA:
A crise econômica pegou em cheio Minas Gerais. Os setores que estão sendo mais afetados -mineração e siderurgia- têm muito peso na economia mineira. Dados da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) indicam que, dos R$ 130 bilhões anunciados em investimentos neste ano, 75% são desses dois setores.
Se esses investimentos serão executados, ninguém ainda se arrisca a garantir. Embora o governo do Estado mantenha um discurso otimista, a Fiemg já admite que os investimentos poderão ser afetados, conforme documento elaborado sobre o balanço de 2008 e a perspectiva para 2009 da economia mineira. Os investimentos em curso devem ser mantidos, mas, sobre os novos, há dúvidas.
"Ainda não há indícios de que os investimentos anunciados em 2008 para Minas sejam fortemente afetados. No curto prazo, em razão da restrição de crédito, os investimentos podem ser escalonados ao longo do tempo. A expectativa é que os projetos em andamento sejam concluídos, ficando os novos acomodados de acordo com o movimento do mercado", diz um trecho do documento.
A Fiemg projeta em 2,8% o crescimento do PIB mineiro para o próximo ano; a expansão do faturamento industrial deve ser de 2,5%; já as exportações do Estado devem registrar decréscimo de R$ 5,6 bilhões (caem de R$ 24,6 bilhões, neste ano, para R$ 19 bilhões).
Empresas do setor mineral anunciam cortes de produção, como fizeram Vale e Samarco (50% de controle da Vale e 50% da BHP Billiton) -e demitem. Já está perto de 1.500 o número de demitidos na cadeia mineradora, segundo o presidente da Fiemg, Robson Andrade.
Indústrias de ferro-gusa abafaram 80% dos seus fornos e demitiram 3.000 pessoas, segundo o sindicato do setor, e outras empresas, como a Usiminas, desligaram altos-fornos e deram férias coletivas.
O Sindicato dos Metalúrgicos de Betim homologou, entre outubro e 15 de dezembro, 947 rescisões de contrato de trabalhadores da Fiat e das 15 fábricas de autopeças sediadas no entorno da montadora italiana. O Sindicato dos Metalúrgicos de BH e Contagem estimou em 2.000 as homologações. "O mercado de trabalho em 2009 deverá registrar menor expansão, inclusive com riscos de demissões, decorrentes da desaceleração econômica mundial", avalia a Fiemg.
Com tantas previsões de baixo crescimento, o Estado manteve intacto o seu Orçamento para 2009, aprovado pelo Legislativo mineiro tal como encaminhado pelo Executivo. O valor total é de R$ 38,9 bilhões.
Aécio
Potencial candidato a presidente em 2010, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), trabalhará para manter os investimentos de R$ 10,8 bilhões previstos para 2009. Ele tem repetido, sempre que é questionado, que não haverá mudanças porque o Estado trabalha com projeções "realistas".
Aécio vai querer manter obras de grande visibilidade política e com potencial de votos, como a transformação de estradas vicinais no interior e em projetos viários e de transporte em Belo Horizonte.
O vice-governador, Antonio Anastasia (PSDB), disse à Folha que, em que pese uma queda no PIB em 2009, o Orçamento será executado tal como aprovado porque o governo trabalha com números de elevação de receita baixos, praticamente iguais aos de 2008.
Sobre a arrecadação com o desempenho da mineração, por exemplo, ele alega que o impacto não será tão intenso porque, sendo grande parte da produção destinada ao mercado externo, as empresas estão isentas de pagar ICMS (principal imposto estadual).
Mas ele reconhece que isso gera problemas na cadeia de produção das mineradoras, até porque os caminhoneiros que transportam o minério e os trabalhadores da Vale já estiveram na Secretaria de Governo para discutir seus problemas.
"Há o impacto em cadeia, isso é importante. Mas no caixa do Tesouro não é tão grande esse impacto. A ordem é cautela até março. Depois vamos avaliar, mas estamos confiantes", disse Anastasia, responsável pelo gerenciamento de todas as ações da gestão Aécio.
Para Robson Andrade, presidente da Fiemg, em que pese haver corte de um terço na produção mineral e de aço, ele vê um alento "importante" para esses setores, especialmente o siderúrgico. Por causa da demanda aquecida, a indústria naval nacional importava aço. Agora, acredita que o setor siderúrgico do Estado poderá se beneficiar disso.

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