quinta-feira, 13 de março de 2008

"Estão tentando construir a democracia do Partido Único"

Do Blog de Reinaldo Azevedo:

Folha Online. Volto depois (Reinaldo Azevedo):O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), defendeu nesta quarta-feira a inclusão do PMDB na aliança entre o PSDB-PT que está sendo construída em Belo Horizonte para as eleições deste ano. Para o tucano, os políticos tem que "quebrar" resistências, pois não podem viver se "digladiando" na busca permanente pelo poder.

Segundo Aécio, é preciso buscar a convergência, e o PMDB "é muito bem-vindo nesse entendimento."

Nós não temos que estar — no caso eventual do PSDB e PT, respeitadas as diferenças de cada município e as realidades locais — lutando a vida inteira, se nós pudermos convergir em questões que sejam de interesse da população. E o PMDB é muito bem vindo nesse entendimento. Já tem sido parceiro nosso na Assembléia Legislativa [de Minas Gerais], quanto maior a convergência, melhor para a população", afirmou o governador.

Aécio ressaltou que ainda não pensa nas eleições presidenciais de 2010, porque agora tem de cuidar de 2008, particularmente da "convergência natural" entre o PSDB e o PT porque a população de Belo Horizonte quer a continuidade da parceria entre a prefeitura e o Estado.

Cementário do Reinaldo Azevedo

E por que não os demais partidos de Minas? Por que a discriminação? Vamos aprendendo, assim, que a verdadeira democracia é a eliminação das divergências por meio da inclusão. Nesse modelo, a democracia perfeita é a do partido único. Em vez de ser por meio do porrete fascista ou comunista, chega-se à unidade por meio da conciliação.

Se vale para Minas, por que não vale para o Brasil? Somos obrigados a testar, hipoteticamente ao menos, essa tese em sua plena potência: toda divergência, assim, é negativa para a população. A suposição implícita é a de que também o tal povo não tem, entre si, diferenças.

E quem vai governar? Ora, os interesses comuns. Mas, se são comuns, por que os mineiros — ou os brasileiros — estão divididos em partidos, que, supõe-se, distinguem correntes de opinião? Como será feita, depois, a distribuição de cargos? Ou não haverá distribuição de cargos?

O que me encanta nesse modelo é a sua originalidade. A Espanha acaba de ter eleições. Por margem estreita, o PSOE de Zapateiro venceu o direitista PP. O mesmo ocorreu nas eleições municipais da França. A derrota de Sarkozy, embora menos dura do que se noticiou, foi uma advertência. Nos Estados Unidos, não só uma união entre democratas e republicanos soaria ridícula, como o pau está comendo na disputa entre Barack Obama e Hillary Clinton. No mesmo partido.

Esse arranjo proposto por Aécio Neves lembra mais a divisão de poderes entre os Senhores da Guerra do Afeganistão do que a realidade vivida pelas democracias ocidentais. Afinal, na prática, trata-se de juntar os que têm armas para transformar as eleições num processo homologatório. Depois, é só distribuir entre os “líderes” o produto do arranjo.

Como diz piada conhecida, cumpre afirmar: se a coisa só dá no Brasil, ou é jabuticaba ou é besteira. Havendo sempre a possibilidade, dada a realidade, de ser coisa ainda pior.

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